Luiz Carlos Hauly
O preço da promiscuidade
LUIZ CARLOS HAULY
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu partido, o PT, passam pelo pior momento desde que chegaram ao poder. O caso de corrupção explícita nos Correios e seus desdobramentos, cada vez mais graves, abalaram de vez a reputação do partido, já comprometida por episódios anteriores, entre eles o envolvendo Valdomiro Diniz, o ex-assessor do ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu. E lançam uma sobra, que todas as pessoas de bom senso esperam seja passageira, sobre a reputação do presidente da República.
Por enquanto não surgiram sobre a maioria das acusações. Não há, no entanto, do ponto de vista político, necessidade de tais provas: os indícios da relação promíscua que o PT vem mantendo com o poder são tão evidentes, tão acachapantes, e surgiram já nos primeiros dias da república petista, que são suficientes para fazê-lo merecer, diante da opinião pública, o veredito de culpado.
O PT está pagando o preço da promiscuidade que instituiu aos olhos da Nação, cada vez mais perplexa com a falta de puder de um partido que chegou ao poder graças ao que dizia simbolizar – a pureza na condução da coisa pública, anseio histórico do povo brasileiro.
Só poderia dar no que deu o trânsito livre do tesoureiro e do secretário-geral do PT, Delúbio Soares e Silvio Pereira, nos corredores e gabinetes palacianos e sedes de estatais – fontes de recursos quase infindáveis. Até sala no Palácio do Planalto o secretário do partido chegou a utilizar (ou ainda a utiliza?)
Só poderia dar no que deu o aumento e a distribuição desenfreada de cargos comissionados a “companheiros” sem experiência e aliados sem escrúpulos. E muitos desses companheiros sem experiência estão demonstrando – a corrupção no Ibama pode ser apenas a ponta do iceberg – que também não têm escrúpulo algum em se apropriar dos recursos públicos.
Só poderia dar no que deu a tentativa de realizar a qualquer cu$$$to o único projeto que o PT, e infelizmente também o presidente da República, têm demonstrado possuir: prolongar ao máximo a permanência no poder. Projeto, aliás, admitido claramente pelo chefe da Casa Civil durante recente passagem pela Espanha. “Nosso projeto é 12 anos no poder”, confessou.
O presidente Lula tem uma biografia a preservar, como ele próprio admitiu e a Nação reconhece. É hora, portanto – e não faltaram advertências neste sentido já no início de seu mandato -, de o presidente arregaçar as mangas, descer do altar que erigiu para si próprio e sair em defesa de sua integridade – por meio de atos e não de palavras vãs.
Não bastará apenas trocar este ou aquele ministro, impor ao partido a substituição do tesoureiro e do secretário geral, cobrar mais eficiência da já eficiente Polícia Federal, tratar com responsabilidade os trabalhos da CPI dos Correios.
Não bastará apenas “cortar na própria carne”, como prometeu Lula na abertura do Fórum Mundial contra a Corrupção. É preciso ir mais além. É preciso uma profilaxia geral. É preciso expurgar do espírito petista de governar a práxis de tratar a República como mera extensão do partido.
Estará o presidente Lula apto a esta tarefa?
Seu governo tem apenas mais um ano e meio de duração e, do ponto de vista moral, está encerrado. Não sobrou “pedra sobre pedra” (perdão por apropriar-me da expressão do presidente) da reputação que o levou ao poder. Politicamente, porém, o governo poderá cumprir o tempo de permanência que lhe foi outorgado pela Nação se promover com urgência essa profilaxia.
O tempo urge. E ameaça a biografia do presidente.
LUIZ CARLOS HAULY (PSDB-PR) é membro da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados