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  • Foto do escritorLuiz Carlos Hauly

O governo do escárnio

Luiz Carlos Hauly


Meu companheiro de partido e de Câmara Federal, Antonio Carlos Pannunzio, definiu com precisão a dança ensaiada pela nossa também colega Ângela Guadagnin, do PT: “Foi a dança do escárnio”, disse ele, atribuindo um novo sentido a um ato que ficou nacionalmente conhecido como a “dança da pizza”. Ou como diz a professora e socióloga Maria Lúcia Vítor Barboza “dança com bobos” referência jocosa ao filme Dança com Lobos. Ângela dançou no plenário da Câmara para comemorar a absolvição de outro colega nosso, João Magno – petista como ela -, réu confesso de participação no “valerioduto”.


Por mais que a deputada peça perdão pelo gesto, pois mais que atribua a onda de indignação que se levantou contra ela ao “preconceito por ser gorda, não pintar os cabelos e ser filiada ao PT”, como alegou, ela revelou através de sua dança não apenas seu inconsciente, mas o inconsciente infelizmente cada vez mais consciente do partido a que pertence, partido que está no comando do País: o escárnio.


Escárnio – desprezo, desdém, menosprezo, manifestados de forma jocosa – em relação ao que? Simplesmente a todos os valores éticos que a sociedade brasileira esperava ver respeitados pelo governo do PT, e por isso o içou à presidência da República, e que, no entanto, se revelou, entre outros desvios, patrocinador e financiador, por meio de recursos subtraídos das estatais, do desprezível “mensalão”. E, como comprova ao maior dos crimes praticados pelo governo petista, da quebra de sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa, escárnio à própria Constituição.


O episódio derrubou o ministro da Fazenda Antonio Palocci e o presidente da Caixa Econômica Jorge Mattoso, ambos responsáveis pelo ato criminoso, e expôs claramente a cumplicidade simbólica do próprio presidente da República que, ao se despedir do ministro exonerado “a pedido”, assim se referiu aos laços que os unem: “Nossa relação é de companheiro, possivelmente mais do que irmão”.


Com essa frase, Lula, mais uma vez, zombou do sentimento de indignação que tomou conta da maioria da população brasileira, porque, ao se despedir com tapinhas nas costas e elogios melosos do ex-ministro violentador da Constituição, associou-se a um ato criminoso. Se a liturgia do cargo estabelecia a presença do presidente da República na troca de comando da Fazenda, ela o obrigava também – e principalmente – a uma presença meramente protocolar para marcar o afastamento e a reprovação moral que o ocupante do mais alto cargo público precisa demonstrar a um criminoso.


A indulgência que o presidente aplicou a Palocci é conseqüência natural da frouxidão que o tem caracterizado em relação à ética que o seu governo e seus subordinados têm de respeitar – mas desrespeitam de maneira contumaz - no trato da coisa pública.


Em pelo menos duas ocasiões ele já havia manifestado escárnio em relação a dois crimes e ao sentimento de indignação popular provocado por esses atos: quando, em Paris, relativizou a gravidade da descoberta de que o PT recorrera sistematicamente ao caixa 2 nas campanhas eleitorais (“todos fazem isso”, disse), encobrindo que a verdadeira destinação do dinheiro era para o mensalão e, em seguida, ao considerar um mero “erro humano” o envolvimento de petistas no cambalacho do “valerioduto”.


A acintosa campanha reeleitoral que o presidente vem empreendendo desde que tomou posse e intensificou a partir do final do ano passado é outro escárnio.

O governo Lula é a imagem e semelhança de seu titular. É o governo do escárnio.


LUIZ CARLOS HAULY (PSDB-PR) é membro da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados

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