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  • Foto do escritorLuiz Carlos Hauly

A volta do que não foi ou o caixa 2 ambulante

Estava em dúvida sobre qual dos títulos acima daria a este artigo e, diante da verossimilhança dos dois em relação ao personagem e aos fatos que analisarei, optei pelos dois.


O reaparecimento do ex-ministro-chefe da Casa Civil, cassado há quatro meses sob a acusação de comandar o mensalão – acusação retificada pelo procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza, que alcunhou Dirceu de “o chefe da quadrilha” dos 40 que se locupletou de recursos públicos para financiar o apoio político ao presidente Lula – remete-nos necessariamente ao filme, que jamais foi realizado mas que povoa o imaginário popular, “A Volta dos que não foram”.


Dirceu protagoniza neste momento “A Volta do que não foi”, pois, na realidade, jamais deixou o cenário político. Seu primeiro papel nesta paródia planaltiana foi se abrigar em exóticas mansões francesas ao lado do “bruxo” Paulo Coelho tendo a tiracolo o famoso escritor Fernando Moraes, a quem, dizia o ex-ministro, dera a missão de recolher suas memórias para a redação de um livro que exporia os porões do governo petista.


O livro não saiu e jamais sairá – era, constata-se agora, nada mais que uma manobra para “sensibilizar” a cúpula do poder petista a aceitá-lo novamente em seu seio, restituindo-lhe, ao menos informalmente, o poder da articulação política, que, em 2002, proporcionou a Lula a realização do seu maior projeto – sua condução à presidência da República.


Mas este – a capacidade operacional de Dirceu – era apenas um dos gumes da faca que o ex-ministro brandiu para recuperar seu poder nas fileiras petistas. O outro, mais cortante que o primeiro, certamente é o potencial explosivo de suas revelações.


Lula e o PT sobreviveriam politicamente diante de uma eventual abertura de “coração” do chefe da “quadrilha”? Duvido.


O retorno do que não foi pode ter afastado temporariamente esse risco, mas abriu um flanco que poderá custar caro ao governo petista: levanta a sólida suspeita da utilização sistemática do partido aos “recursos não contabilizados”, como definiu a nefasta prática do caixa 2 o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares (um dos chefes do partido que caíram em desgraça, mas que, a exemplo de Dirceu, se souberem bater o pé no momento certo serão reintroduzidos, mesmo que sem o poder oficial de antes, às suas atribuições).


O aluguel de um jatinho por R$ 14,5 mil para levar Dirceu à casa de Itamar Franco em Juiz de Fora – visita que ao que tudo indica “convenceu” o ex-presidente a disputar a indicação do PMDB à Presidência da República, enfraquecendo, assim, a candidatura do rebelde Anthony Garotinho – é apenas a ponta do iceberg.


O ex-ministro, que é advogado mas, por força de sua atuação política, tem um raquítico currículo nesse “métier”, alegou que retomou sua profissão e também está fazendo “consultoria”. E que, se usou o jatinho, é porque tem dinheiro para pagá-lo.


Ressalte-se que nesses quatro meses desde que teve o mandato cassado, Dirceu, além da faustosa viagem à Europa, esteve nos Estados Unidos, Venezuela (duas vezes pelo menos) e Bolívia e viaja constantemente em território nacional para promover “contatos políticos”.


Ora, a “advocacia” a e as “consultorias” a que Dirceu está se dedicando têm sido exclusivamente de caráter político. A visita a Itamar foi encomendada pelo presidente Lula, que, afirmam os jornais, também encarregou o ex-chefe da Casa Civil de articular alianças nos Estados que favoreça sua campanha à reeleição. Em outros termos, a Dirceu foi dada a missão de coordenar, no terreno político, a candidatura de Lula.


A pergunta, portanto, é inevitável: quem está financiando a “consultoria” e os serviços “advocatícios” que Dirceu vem prestando, ao que tudo indicada com exclusividade, a Lula e ao PT?


LUIZ CARLOS HAULY (PSDB-PR) é membro da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados

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