Luiz Carlos Hauly
A nova onda ficha limpa
Acostumados a aprovar medidas impopulares na carona do Congresso, como o reajuste dos próprios salários, os parlamentares gaúchos têm agora a chance de impulsionar um efeito-cascata do bem. Na esteira da Lei do Ficha Limpa, que aumentou o rigor para o registro dos candidatos desde a última eleição, começa a emergir uma nova onda para que se exijam os mesmos critérios na hora de escolher quem vai ocupar outras funções públicas. No Estado, a ideia ganhou força ontem, com o projeto protocolado pela deputada Zilá Breitenbach (PSDB) na Assembleia. Caso a proposta seja aprovada, o crivo da Ficha Limpa passará a ser pré-requisito para todos os cargos em comissão do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. – Essas vagas também manejam o dinheiro público, não adianta só exigir dos candidatos – argumenta Zilá, lembrando que, em sua proposta, estão incluídos tanto cargos de administração direta quanto indireta, como as autarquias. Um projeto semelhante tramita no Congresso, de autoria de Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), e a ideia se espalha pelos municípios do país afora. Somente no Rio Grande do Sul, a proposição é discutida em pelo menos três Câmaras de Vereadores: em São Borja, por proposição do vereador Roque Feltrin (PDT), em Cidreira, apresentada por Matheus Junges (PC do B), e em Santa Rosa, por iniciativa de Paulo Paim (PC do B). Não há dúvidas de que até a aprovação haverá um longo caminho de discussões e pendengas administrativas e jurídicas. Um dos desafios é superar as brechas deixadas pelo projeto original, que permite tantas interpretações, a ponto de comprometer sua eficácia e credibilidade. Num país ideal, uma lei como essa nem precisaria existir, pois a reputação ilibada já seria um princípio. No país do jeitinho, resta torcer para que a moda da Ficha Limpa realmente pegue.